APEGO SUICIDA À DESIGUALDADE

Amarildo Cenci, presidente da CUT - RS

Amarildo Cenci, presidente da CUT - RS



Amarildo Cenci – Professor e presidente da CUT-RS
presidencia@cutrs.org.br

A caça aos consumidores continua a todo vapor mirando as vendas de final de ano. Basta colocar o pé na internet para ouvir a gritaria das promoções. No entanto, o mundo maravilhoso das ofertas tentadoras se choca com a pobreza da renda. Trabalhadores que sobrevivem de salário mínimo, massacrados pela carestia e o arrocho salarial, só conseguem consumir o suficiente para voltar ao trabalho no dia seguinte. Renda comprimida, consumo baixo, produção em queda. O círculo vicioso que governos e empresários se negam a enxergar.

Concentrar renda e socializar a pobreza é a pior e a mais perigosa forma de enfrentar a crise econômica. Não se constrói uma nação sem elevar a renda de seus cidadãos. Não se ergue um país desvalorizando o trabalho e destruindo direitos. Nenhuma democracia sobrevive atolada na injustiça social. Somos um país pleno de possibilidades governado por uma elite que possui um medo injustificável do desenvolvimento econômico e um apego suicida à desigualdade.

Ano passado, os deputados aliados com o Palácio Piratini aprovaram com sorrisos no rosto reajuste zero no mínimo regional. O governador sancionou e empresários aplaudiram. Tudo leva a crer que fecharemos três anos sem reajuste no piso regional, que acumula defasagem de 10,3% em 2019 e 2020. Em julho, o governo enviou um projeto de lei para o Legislativo, sem regime de urgência, com reajuste de apenas 2,73%. De lá para cá ocorreram sucessivas audiências públicas, sempre ignoradas pelo governo e aliados. A Casa do povo gaúcho trata o tema com solene indiferença.

Certos empresários, que poderiam utilizar o mínimo regional como ferramenta para o crescimento econômico, tramam por sua extinção. O mais absurdo é ver entidades empresariais do setor do comércio cerrando fileiras contra reajuste, mesmo sabendo que poderia aquecer as vendas de final de ano. Afinal de contas, os 1,5 milhão de gaúchos e gaúchas que recebem o piso regional não aplicam no mercado financeiro, gastam no mercado da esquina e são também eleitores.

– Artigo publicado em Zero Hora.