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Quem ganha com o caos e quem morre na lama? – Claudir Nespolo

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Mesmo com a crise financeira desencadeada em 2008 e o clima de instabilidade social reinante, o número de bilionários e a concentração de riqueza não cessam de crescer. Estima-se que a riqueza de 26 bilionários equivale à renda de 3,8 bilhões de pessoas. Os bilionários não nutrem nenhuma preocupação com os pobres, os inempregáveis e os “sobrantes”. Para eles, a desigualdade é natural. Reclamam, inclusive, que são injustiçados pelos regimes tributários e tolhidos pelo excesso de regulação.

Jeff Bezos, o homem mais rico do planeta, possui uma fortuna de 112 bilhões de dólares. Apenas 1% da riqueza de Bezos corresponde ao orçamento anual destinado à saúde da Etiópia, um país de 105 milhões de habitantes. Mukesh Ambani, o mais rico da Índia, reside em um edifício de 170 metros de altura, no valor de 1 bilhão de dólares, a casa particular mais cara do mundo. Richard Branson, o bilionário britânico do grupo Virgin Galactic, aplica parte de sua riqueza em um submarino de titânio e fibra de carbono, um brinquedinho para exploração das profundezas oceânicas.

Calcula-se que seis, de uma lista de 31 bilionários nativos, possui a mesma riqueza que o somatório de 103 milhões de brasileiros. Foi divulgado que o salário de Fabio Schvartsman, atual presidente da Vale, é de R$ 1,6 milhão por mês. É o mesmo que avaliou em R$ 100 mil a indenização para cada vítima fatal de Brumadinho.

As grandes descobertas tecnológicas, financiadas pelas corporações desses semideuses, estão a serviço da busca frenética pela imortalidade, a evasão do planeta terra através da exploração espacial e a produção de controles físico e subjetivo dos seres humanos. O mais chocante é que o capital aprendeu a extrair dividendos com a destruição programada da natureza. Os “derivativos climáticos” e as “obrigações de catástrofe” fazem o maior sucesso no mundo financeiro.

Os investimentos dessas corporações são protegidos por seguradoras e os riscos, convertidos em títulos (“cat bond”), flutuam no cassino global. Depois de Brumadinho, a Vale do Rio Doce sairá mais rentável. Na verdade, os bilionários lucram com o caos e os trabalhadores são sufocados pela lama da desigualdade.

Claudir Nespolo é metalúrgico e presidente da CUT-RS

(Artigo publicado no jornal Zero Hora e no portal Sul21)

Fonte: CUT-RS

Onde fica a dignidade no mundo do trabalho?

Reprodução do artigo na ZH desta quarta-feira, dia 15

Reprodução do artigo na ZH desta quarta-feira, dia 15

A formação da identidade humana, a construção da subjetividade e a garantia de sobrevivência estão diretamente vinculadas ao trabalho. Esse é um dos fundamentos para considerá-lo um direito humano. Paradoxalmente, a exploração do trabalho produz sofrimento, embrutecimento e diminuição da liberdade.

O trabalho livre, o assalariamento, jornadas de trabalho compatíveis com a integridade física, condições de trabalho que não atentem contra a saúde física e mental, legislações que protejam os trabalhadores (sujeitos mais vulneráveis nas relações de trabalho), o reconhecimento de instituições para representar os interesses coletivos (sindicatos), foram sendo progressivamente conquistados, dignificando o trabalho e fazendo a vida em sociedade valer a pena. 

A Lei 13.467/2017, conhecida como reforma trabalhista, entrará para a história, como uma das maiores aberrações jurídicas, em flagrante desacordo com os tratados internacionais, as convenções da OIT, a Constituição Brasileira e com os princípios da Justiça do Trabalho.

Politicamente, é fruto de um governo ilegítimo, com baixíssima popularidade e ventríloquo do empresariado mais arcaico e de um parlamento transformado em balcão de negócios, que tudo faz para aprovar mudanças estruturais, sem transparência e debate público.

Economicamente, reduzirá renda, diminuirá o consumo e causará azedume no ambiente de trabalho, com prejuízos na produtividade. Se aplicada, acirrará a concorrência espúria entre as empresas, aumentando a desorganização produtiva e a insegurança, tanto jurídica quanto econômica.

Socialmente será um desastre, pois a proliferação do emprego precário e indigno semeará informalidade e insegurança no trabalho.

Quando o presidente do TST propõe a equação “menos direitos e mais emprego”; quando membros do STF manifestam publicamente o desejo de extinguir a Justiça do Trabalho e suprimir o artigo 7º da Constituição Federal; quando o ministro do Trabalho, sabendo de uma avalanche de precarização e endurecimento das relações trabalho, se antecipou e tornou inócua a legislação que pune o trabalho análogo à escravidão; suspeitamos que falta pouco para ouvirmos que a flexibilização da Lei Áurea é indispensável para nos modernizarmos. 

Claudir Nespolo
Presidente da CUT-RS